quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Oídio (Oidium sp.) incidente em folha de mostarda (Brassica juncea)

Jakelinny Martins Silva

Acadêmica do curso de Agronomia



INTRODUÇÃO

Não se sabe, com precisão, quando o grão de mostarda começou a ser utilizado como tempero. A história lembra grandes nomes da gastronomia e criadores de pratos famosos como Marcus Apicius (25 a..C.), Guillaume Tirel (1310 –1395), Marques de Bechamel e tantos outros. Egípcios, gregos e romanos já a utilizavam para realçar o sabor dos alimentos (Giacometti, 1989).

A mostarda chegou à Inglaterra no século XII, e na Espanha o consumo apareceu com a chegada das legiões romanas. Quando Vasco da Gama embarcou em direção à rota das Índias tinha a bordo um barril de mostarda (Giacometti, 1989).

Pertencente ao reino Plantae, divisão Magnoliophyta, classe Magnoliopsida, ordem Brassicales, família Brassicaceae, a mostarda está inserida no gênero Brassica, que inclui repolhos, couve, couve-flor e nabos (Filgueira, 1982).

Há três espécies de mostarda que são comumente plantadas ou encontradas: Brassica alba (mostarda branca, nativa da bacia do Mediterrâneo), Brassica juncea (mostarda amarela ou indiana, possivelmente originária da África e naturalizada na Ásia), Brassica nigra (mostarda negra, nativa da Eurásia) (Filgueira, 1982).

A mostarda é uma verdura conhecida pelo seu sabor amargo. Suas folhas são parecidas com as folhas dos brócolis, tanto no tamanho como na forma. É rica em proteínas, vitaminas A, B2 e C e contém boa quantidade de cálcio e ferro. Por não ter muitas calorias é recomendada para pessoas que desejam manter ou reduzir o peso. Uma porção de 20 gramas, em média, contém 15 calorias (Giacometti, 1989).

Nas feiras livres e supermercados é fácil encontrar mostarda em maços. Quando está em boas condições para o consumo, ela tem um aspecto fresco e tenro e suas folhas não estão amareladas nem murchas. É consumida com maior frequência em regiões tropicais (Giacometti, 1989).

Estudos da EMPRAPA mostraram que a melhor região para o cultivo da mostarda é a região do planalto Central, sendo que a cultivar Gisilba, de origem alemã, foi a que demonstrou melhor adaptação às condições climáticas e de solo, produzindo rendimentos na ordem de 600 a 700 quilos/hectare (Giacometti, 1989).

O oídio é a doença mais importante nos cultivos em estufas ou sob proteção de plástico, onde geralmente a temperatura é mais elevada e a irrigação é por gatejamento, não havendo levagem das folhas, mas também pode ser encontrado em culturas a céu aberto (Lopes et al., 2005).

O objetivo desse trabalho foi identificar e analisar isolados de Oidium sp. provenientes de planta de mostarda para conhecimento de seu sintomas na planta, sua epidemiologia, etiologia e métodos de controle.


MATERIAIS E MÉTODOS


O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano campus Urutaí, onde amostras de folhas de mostarda obtidas da cidade de Urutaí, Goiás, apresentando uma massa pulverulenta branco-acinzentada, foram analisadas em microscópio estereoscópio.

Foram feitas lâminas semi-permanentes das estruturas do fungo retiradas da folha do hospedeiro através do método de de fita adesiva, que constitui em colar a fita adesiva em cima dos sinais do patógeno contidos na folha e fixá-la na lâmina com fixador a base de corante azul-de-metileno para observação em microscópio óptico.

Em microscópio óptico identificou-se o agente etiológico com aumento de 10x e 40x.

Foram tiradas fotos com câmera digital Sony Canon Power Shot A580 dos sinais do fungo em microscópio estereoscópio e das estruturas do fungo presentes nas lâminas semi-permanentes em microscópio óptico com aumento de 40x

As fotos foram editadas em programa PhotoScape e agrupadas em prancha no programa Microsoft Office PowerPoint.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Hospedeiro/cultura: Mostarda (Brassica juncea L. )

Família Botânica: Brassicaceae

Doença: Oídio

Agente Causal (Teleomorfo): Oidium sp.

Local de Coleta: Urutaí - Goiás

Data de Coleta: 29/09/2010

Taxonomia: Teleomorfo: Reino Fungi, Divisão Ascomycota, Classe Leotiomycetes, Subclasse Leotiomycetidae, Ordem Erysiphales, Família Erysiphaceae, Gênero Spherotheca, Espécie Sphaerotheca fuliginea (Index Fungorum, 2010).

Anamorfo: Reino Fungi, insertae sedis, grupo de fungos mitospóricos, Subgrupo Hifomicetos (Kirk et al. 2001)

Sintomatologia: O sintoma mais comum é o aspecto pulverulento de cor branco-acinzentada, que se forma nas superfície da folha, constituído de micélio e de órgãos de frutificação assexuada do fungo (Fig. 1A) (Kurozawa e Pavan, 1997).

Os sintomas mais evidentes são a redução do crescimento, superbrotamento, deformação do limbo foliar, atrofia, necrose e queda das folhas. Quando as lesões secam, podem provocar uma necrose no limbo foliar de coloração amarelada a castanho avermelhada. Muitas vezes, a infecção se inicia nos locais onde as gotas de água permanecem retidas no limbo foliar (Kurozawa e Pavan, 1997).

Em variedades suscetíveis, ocorre uma redução no crescimento, deformação das folhas e a planta perde qualidade. Já nas bastante suscetíveis, as folhas ficam atrofiadas, as lesões necrosam e provocam a queda prematura das folhas, podendo levar a planta à morte (Stadnik e Riviera, 2001).


Etiologia (Sinais): Oidium sp. é um fungo patogênico, biotrófico, isto é, depende inteiramente de seus hospedeiros vivos para sobreviver, pois necessita de nutrientes específicos, não possuindo crescimento saprofítico (Lopes et al., 2005).

Os oídios são fungos pertencentes à classe dos Ascomicetos, família Erisiphales, onde os cleitotécios (estruturas arredondadas que abrigam os ascósporos) são fundamentais para sua taxonomia (Portal Madeira Total, 2010).

A olho nu, observa-se na superfície da folha uma formação esbranquiçada, parecendo uma teia, que nada mais é que o micélio externo do fungo (Fig. 1B). Em microscópio, são observados conídios cilíndricos, unicelulares, sem a presença de vacúolo e corpos de fibrosina, hialinos (Fig. 1DF), produzidos em cadeia sobre conidióforos eretos, apresentando dimensões que variam de 17,1-21,1 x 27,7-54,1 µm, também hialinos, que se formam sobre as hifas (Fig. 1E) (Fitopatologia, 2010).

A absorção dos nutrientes do hospedeiro é feita via haustórios, emitidos pelas hifas septadas e bastante ramificadas (Tokeshi e Carvalho, 1980).

Em geral, temperaturas elevadas são mais favoráveis à ocorrência da doença, mas chuvas pesadas podem danificar o micélio superficial e os conidióforos, desfavorecendo o desenvolvimento do patógeno (Kurozawa e Pavan, 1997).

No Brasil, o gênero Oidium sp. mostra-se ocorrente em estados como Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Ceará, Pernambuco, Bahia e Amazonas estando presente em muitas de espécies diferentes de plantas (EMBRAPA Banco de Dados Brasileiro de Micologia, 2010).

As principais espécies do gênero Oidium encontradas associadas a plantas no Brasil são: Oidium abelmoschi, Oidium albicans, Oidium ambrosiae, Oidium anacardii, Oidium asterispunicei, Oidium balsamii, Oidium binae, Oidium caesalpiniacearum, Oidium cariscae, Oidium cariscae-papayae, Oidium ceratoniae, Oidium clitoriae, Oidium cyparissiae, Oidium cerysiphoides, Oidium eucalypt, Oidium farinosum, Oidium heveae, Oidium hortensiae, Oidium leucoconium, Oidium lycopensici, Oidium mangiferae, Oidium manihotis, Oidium perseae, Oidium perseae-americanae, Oidium persicae, Oidium quercinum, Oidium sicula, Oidium sp., Oidium tingitaninum (Cenargem, 2010).

Como no Brasil e no mundo, a ocorrência de oídio em mostarda ainda está sendo estudada, portanto, a sua etiologia não está plenamente definida. Assim, não há registros de espécies específicas de Oidium que atacam plantas de mostarda (Index fungorum, 2010 ; Farr e Rosman, 2010).

Epidemiologia: O fungo Oidium sp. tem várias outras hopedeiras e é disseminados pelo vento. (Fitopatologia, 2010)

Temperaturas acima de 30ºC podem acelerar o desenvolvimento de sintomas de amarelamento e necrose dos tecidos. A presença de água livre nas folhas desfavorece o desenvolvimento do fungo. (Fitopatologia.net, 2010)


Controle: Chuvas podem danificar o micélio superficial e os conidióforos, desfavorecendo o desenvolvimento do patógeno, portanto, a presença constante de água, principalmente de irrigação por aspersão, pode favorecer o controle do oídio, porém, pode favorecer o aparecimento de outros patógenos (Kurozawa e Pavan, 1997).

Deve-se estabelecer novas plantações (inclusive e principalmente om proteção de plástico) em áreas distanciadas de plantas de tomate, de pimentão, e de outras hospedeiras do fungo (Lopes et al., 2005).

O controle químico, por meio de pulverizações periódicas com fungicidas sistêmicos, tem sido a medida de controle mais estudada. Contudo, trabalhos têm sido desenvolvidos procurando evidenciar o potencial do leite de vaca no controle da doença (Bettiol, 2000 e Van den Broek et al. 2002).

Para controlar o fungo, também recomenda-se pulverizar a cultura com uma mistura de 5 litros de leite cru para 95 litros de água (Agrisustentável, 2010).

Produtos pouco tóxicos como a calda sulfocálcica e enxofre, que apresentam bom efeito erradicante, são também recomendados (Monteiro et al., 2000).

O controle químico do oídio deve ser realizado quando ocorrem condições ambientais favoráveis ao fungo (Portal Madeira Total, 2010), porém, não há registros de fungicidas específicos para o controle da doença no Ministério da Agricultura (Agrofit, 2010).

Figura 1. Oídio (Oidium sp.) incidente em folha de mostarda (Brassica juncea). A. Micélio externo do fungo na superfície da folha causando massa pulverulenta branco- acizentada; B. Formação esbranquiçada, semelhante a uma teia, formada pelo micélio externo do fungo; C. Sintoma da doença observada através de microscópio estereoscópio; D. Conídios cilíndricos, unicelulares, sem a presença de vacúolo e corpos de fibrosina (bar: 9 μm); E. Conidióforos eretos, hialinos, que se formam sobre as hifas (bar: 17 μm; F. Conídio hialino, cilíndrico, unicelular (bar: 15 μm).

LITERATURA CITADA:


AGRIOS, G.N. Plant pathology. 4a Ed., Academic Press. 1997. 606p.

AGRISUSTENTÁVEL. Controle alternativo do Fungo Oidio. Disponível em: <http://www.agrisustentavel.com/ta/cnoidio.htm>. Acessado em: 26/10/2010.

AGROFIT. Disponível em: Acessado em: 21/04/2010

BETIOL W. 2000. Leite de vaca crú controla doença da abobrinha. A lavoura 103: 34-35.

EMBRAPA CENARGEM . Disponível em: > Acesso em: 13/12/2010.

EMBRAPA Banco de Dados Brasileiro de Micologia. Disponível em: Acessado em: 21/04/2010

FARR & ROSMAN, SBML Systematic Botany of Mycological Resources. Disponível em: . Acessado em: 19/06/2010.

FILGUEIRA, F.A.R. Manual de Olericultura – Cultura e comercialização de hortaliças. 2. ed. São Paulo: Agronômica Ceres. 1982. V. 2, 357p.

FITOPATOLOGIA.NET. Disponível em: Acessado em: 19/04/2010.

GIACOMETTI, Dalmo C.. Ervas condimentares e especiarias. Sao Paulo: Nobel, 1989.

INDEX FUNGORUM. Disponível em: . Acessado em: 27/06/2010

KIRK, P.M.; CANNON, P.F.; DAVID, J.C.; STALPERS, J.A. Dictionary of fungi. 9th edition, CABI Bioscience. Surrey, UK, 2001.

KUROZAWA, C.; PAVAN, M.A. Doenças do tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.). In: Kimati, H.; Amorin, L.; Bergamin Filho, A.; Camargo, L.E.A.; Rezende, J.A.M. (eds.). Manual de Fitopatologia. v.2 – Doenças das plantas cultivadas. Piracicaba, Ceres, 1997. p.690-719.

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MONTEIRO AJA; COSTA H; ZAMBOLIM L. 2000. Doenças do Quiabeiro. In: ZAMBOLIM

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PORTAL MADEIRA TOTAL. Disponível em: <http://www.madeiratotal.com.br/materia.php?id=5.0>. Acessado em: 26/10/2010

STADNIK, M. J.; RIVERA, M. C. (Ed.). Oídios. Jaguariúna:Embrapa Meio Ambiente, 2001. 484 p.

TOKESHI, H.; CARVALHO, P.C.T. Doenças do tomateiro - Lycopersicon esculentum Mill. IN: GALLI, F. Manual de Fitopatologia - Doenças das plantas cultivadas. São Paulo:

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VAN DEN BROEK R; IACOVINO AL; PARADELA AL; GALLI MA. 2002. Controle alternativo de oídio (Erysiphe cichoracearum) em quiabeiro (Hibiscus esculentum). Revista Ecossistema 27: 23-26.

ZAMBOLIN, L.; VALE, F.X.R.; COSTA, H. (Eds). Controle de doenças de plantas de hortaliças. Viçosa, UFV. 2000. 444p.

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