quinta-feira, 1 de julho de 2010

Boletim Técnico: Cercosporiose (Cercospora sp.) do Feijoeiro (Phaseolus vulgaris))

Bruno da Silva Ferreira

O feijão pertence ao gênero Phaseolus sp. (Fabaceae) é originário das Américas e possui cerca de cinqüenta e cinco espécies, das quais cinco são cultivadas e dentre estas Phaseolus vulgaris é considerada como a de maior importância econômica e social (Debouck, 1993). A espécie Phaseolus vulgaris tem destaque expressivo por ser a mais antiga em cultivo e também por estar presente nos cinco continentes (Yokoyama & Stono, 2000).
O feijoeiro é uma importante cultura de subsistência e uma das principais fontes de proteínas na dieta humana, principalmente para populações de baixa renda, especialmente na América Latina e África. No Brasil, maior produtor mundial, o feijão é cultivado principalmente por pequenos e médios produtores, que em sua maioria utilizam de baixo nível tecnológico. A média de produtividade de feijão no Brasil está em torno de 700 Kg.ha-1, é considerada baixa; entretanto, em alguns Estados esta média é superior a 1.000 kg.ha-1, sendo que, agricultores brasileiros que usam de alta tecnologia já ultrapassam a marca dos 3000 kg.ha-1. Os principais motivos dos baixos índices de produtividade da cultura estão ligados principalmente ao baixo nível tecnológico empregado pelos pequenos produtores, como por exemplo, a adubação e o controle de pragas e doenças deficientes (Borém & Carneiro, 2006).
O gênero Cercospora spp. é representado por aproximadamente três mil cento e noventa e quatro componentes, sendo que muitos destes são causadores de danos às plantas(Index Fungorum, 2010). Na agricultura têm-se culturas com danos expressivos causados por Cercospora spp. como por exemplo o milho que tem sua produtividade afetada pelo ataque do fungo.
Atualmente segundo informações contidas em ars-grin 2010 têm-se relatos de duzentos e cinqüenta e seis registros de Cercospora no mundo atacando o gênero Phaseolus spp. destas, registra-se que dezoito atacam plantas de P. vulgaris.
No Brasil tem-se registro de quatro espécies de Cercospora com incidência em P. vulgaris representadas por Cercospora canescens com registro nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Ceará e ainda Cercospora caracallae, Cercospora vanderysti e Cercospora zonata sendo esta sinonímia da Cercospora fabae.
No feijoeiro a Cercosporiose é considerada como uma doença que causa danos secundários para a cultura, o que não significa que a doença não mereça atenção por parte dos pesquisadores. Uma das principais doenças incidentes em feijão na atualidade é conhecida como mancha angular (Phaeoisariopsis griseola). Têm-se relatos de que Costa, (1970) comentou que: “A mancha angular é considerada como de relativamente pouca importância econômica nos feijoais de Minas Gerais”. Trinta e quatro anos após Paula Júnior (2004) escreveu que “A mancha angular causada por P. griseola é provavelmente a mais importante doença da parte aérea dos feijoeiros e Sartorato (2005) comenta que: A mancha angular incitada pelo fungo Phaeoisariopsis griseola pode ser encontrada em todas as regiões produtoras do Brasil e que esta enfermidade pode ser responsável por perdas de até 70% na produção. Com isso destaca-se a importância do estudo com Cercospora spp. em feijão.
Este trabalho tem como objetivo descrever aspectos da sintomatologia, etiologia, epidemiologia e controle da cercosporiose incidente em folhas de feijoeiro em campo experimental em Urutaí-GO.

Em um ensaio de cultivares da EMBRAPA CNPAF localizado no campo experimental do IF Goiano campus Urutaí-GO foram coletadas folhas de feijoeiro que apresentavam lesões, sendo que estas foram coletadas manualmente.
As amostras foram conduzidas ao laboratório de Microbiologia e Fitopatologia do IF Goiano onde se fez macro fotos das folhas, dando foco principalmente nas partes abaxial e adaxial das mesmas e também às lesões, foi utilizada câmera digital (Sony Canon Power Shot A580), as fotos foram editadas e agrupadas em prancha no programa Microsoft Office PowerPoint.
Para análise das lesões utilizou-se microscópio estereoscópico, a fim de obter melhor visualização das estruturas e identificação de sinais do patógeno. Após a identificação da presença do patógeno foram feitas lâminas semi-permanentes dos sinais presentes nas lesões. Para a confecção das lâminas utilizou-se o método de pescagem, que consiste em “pescar” estruturas do patógeno com a ponta de uma agulha e colocá-las em lâmina contendo corante azul de algodão, após prontas estas foram vedadas com esmalte para conservação do material. Para a análise das lâminas foi usado microscópio óptico, a fim de visualizar as estruturas microscópicas do fungo.


Hospedeiro/cultura: Feijão (Phaseolus vulgaris L.)
Família Botânica: Fabaceae
Doença: Cercosporiose
Agente Causal (Teleomorfo): Cercospora sp.



Taxonomia: A Cercospora sp. pertence ao reino fungi, filo Deuteromycota, classe Hiphomycetes, ordem Moniliales, família Dematiaceae e gênero Cercospora sp. (Bergamin Filho et al., 1995). Relataram que estes fungos pertencem ao Reino Fungi, ao grupo dos fungos mitospóricos, sub-grupo dos hifomicetos.

Sintomatologia: Os aspectos mais visíveis do ataque são manchas foliares necróticas sem formas definidas que são encontradas com freqüência nos bordos do limbo foliar podendo ocorrer também em outras partes do limbo e também em outros órgãos da planta como, por exemplo, em hastes, ramos e vagens. As lesões ocorrem principalmente nas folhas trifoliadas, embora algumas espécies possam atacar também as folhas primárias unifoliadas. As manchas foliares se tornam mais graves durante o tempo úmido e quente, porém, em favas podem estar presente o ano todo. As manchas foliares causadas por Cercospora spp. podem muitas vezes não serem percebidas, isso principalmente pelo fato de serem muito semelhantes ou de estarem associadas com as lesões causadas por Phaeoisariopsis griseola fungo causador da mancha angular do feijoeiro. No Brasil não existem dados que quantifiquem as perdas provocadas pela cercosporiose do feijão (AGROFIT, 2010).

Etiologia: São patógenos saprófitas facultativos, pois passam à maior parte de seu ciclo parasitando sua hospedeira. São altamente especializados e possuem restrito ciclo de hospedeiros. As principais hospedeiras deste complexo de fungos são plantas da família botânica Leguminosae (AGROFIT, 2010). No Brasil tem-se registro de Cercospora canescens, Cercospora caracallae, Cercospora vanderysti, Cercospora zonata=Cercospora fabae incidindo em plantas do gênero Phaseolus spp..
O fungo apresenta conidióforos e conídios hialinos, septados do tipo filiforme, são geralmente encontrados em feixes de dois ou três conidióforos principalmente na parte abaxial das folhas.


Epidemiologia: Restos culturais apresentam uma potencial fonte de inóculo do fungo, pois se trata de um patógeno saprófita facultativo, ou seja, em uma parte da vida pode ficar de forma latente no solo ou em restos culturais, no entanto quando houver hospedeiro ele se instalará. O fungo pode sobreviver nas sementes contaminadas e sobre os restos de colheita deixados no solo. Os conídios produzidos sobre os restos vegetais no solo podem ser disseminados pelas águas de irrigação ou serem levados pelo vento para as folhas, onde germinam e iniciam a infecção. O fungo sobre as sementes contaminadas germina junto com estas e parasita as folhas primárias, onde se formam os conídios que servirão para a infecção secundária. A formação e a germinação dos conídios e o processo de infecção é favorecido pela umidade relativa e temperaturas altas em torno de 28 °C (AGROFIT, 2010).

Controle: Existem algumas variedades de feijão obtidas no México, Colômbia e Venezuela, que são resistentes a C. canescens. Em áreas com alta incidência da doença, recomenda-se a rotação de cultura com milho e outros cereais para reduzir a fonte de inóculo primário. O controle químico pode ser indicado de acordo com a severidade do ataque da doença. Existem no mercado apenas um produto comercial indicado que é o clorotalonil (isoftalonitrila) + tiofanato-metílico, além de aplicação de fungicida cúprico nos estádios iniciais da cultura (AGROFIT, 2010).























Figura 1. Sintomas e sinais da cercosporiose (Cercospora sp.) do feijoeiro (Phaseolus vulgaris).A. face abaxial de folha de feijoeiro apresentando sintomas, B. sintomas na face adaxial, C. diferencial sintomático, lesões na face abaxial de formato irregular e esférico, , D. micélio acinzentado na face abaxial, foto de microscópio estereoscópico dos sinais de Cercospora sp. F. conidióforos septados, escuros e apresentando cicatriz de secessão, G. detalhe da célula basal ampuliforme do conidióforo, H. conídios hialinos, claviformes.

Literatura Citada

AGROFIT, Cercosporiose do feijoeiro. Disponível em http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons Acessado em 30 de junho de 2010.
BORÉM, A., CARNEIRO, S. E. J., Feijão. 2ª Ed. Vol. Único Pag. 14 – Viçosa: Viçosa, 2006.
COSTA, A. S. Investigações sobre moléstias do feijoeiro no Brasil. In.: Anais do I simpósio Brasileiro de Feijão. Campinas. 22 a 29 de agosto de 1971. p.305-384. 1972.
INDEX FUNGORUM. Disponível em http://www.indexfungorum.org Acessado em 30 de junho de 2010
DEBOUCK, D. Systematics and morphology. In: VAN SCHOONHOVEN, A.,; VOYSEST, O. (Eds.). Common beans – Research for crop Improvement, Cali, Índia, CAB International, CIAT, p. 55-118. 1993.
PAULA JÚNIOR, T. J. de; VIEIRA, R. F. & ZAMBOLIM, L. Manejo integrado de doenças do feijoeiro. Informe Agropecuário 25(223) 99-112. 2004.
SARTORATO, A.; ALZATE MARIN, A. L. Analysis of the pathogenic variability of Phaeoisariopsis griseola in Brazil. Bean Improvement Cooperative. 47: 235-236. 2004.
KIMATI, H., AMORIM, L., REZENDE, J.A.M., BERGAMIN FILHO, A., CAMARGO, L.E.A., Manual de fitopatologia: Doenças das plantas cultivadas. 4ª Ed. Vol. 2, pag. 542 – São Paulo: Agronômica Ceres, 2005.
USDA. Agricultural Research Service. Disponível em http://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/fungushost/new_frameFungusHostReport.cfm Acesso em 30 junho de 2010.
YOKOYAMA, P. L., STONE, F. L., Cultura do Feijoeiro no Brasil: Características de Produção. 1ª Ed. Vol. Único pag. 08 – Santo Antônio de Goiás: EMBRAPA, 2000.

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